24/10/10

MIGUEL ALMEIDA



EUGEN BERTHOLD FRIEDRICH BRECHT (1898 – 1956)

SPELL YOUR NAME – O CASTIGO DO POETA

“Dichter sündgen nicht schwer. / Os poetas não sentem o peso da culpa.”
Goethe, Johann Wolfgang Von, Poesias.

Os cisnes, aves divinas
Que bem que cantam, à despedida
Por falta de medo, pensarão alguns
Ou por (pres) sentimentos,
Cantando vivas à condição
Que largam, ou então se aproxima
Interrogar-se-ão outros, ainda.
Platão, na verdade um poeta
Sob a capa do filósofo, disfarçado
(Pres) sentiu-o, afastando da República
Os poetas, que raro dão exemplos bons na Cidade;
Causam problemas, chamam problemas, são um problema
Manifestam sempre uma tendência para o mau comportamento.
Mas então, o poeta não é absolutamente sério?
Absolutamente, não
Mas a sua atitude é legítima.
Planador, a missão do poeta é elevar-se
Libertar-se das peias da gravidade, do peso comum do mundo
Mas de todo, à margem da impunidade.
Tribunal supremo, a palavra
A sonoridade melodiosa, que é marca do divino
Apenas liberta os que se elevam, sob os auspícios de Apolo
E não, nem todas as palavras soam melodiosas
Mas o pior dos castigos, que não a morte
É a perda e o abandono, o castigo do poeta é deixar de ser poeta.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1919 – 2004)

RETRATO DE SOPHIA

“Sophia – sabedoria mais funda que o simples ‘saber’.”
Andresen, Sophia de Mello Breyner.

As coisas simples, da simplicidade do Mundo e da Vida
Passariam despercebidas, não fosse a elevação pelos olhos do poeta.
A luz da manhã, nas manhãs do Algarve
Expoente significante sem lugar, feitas de luz e de manhã primordiais;
A paz magnífica no silêncio da casa, noite dentro
A escuta, feita dúvida absurda
Não sabendo se é a voz do silêncio que se ouve, ou de Deus;
Mas de Deus, numa busca em volta
Há a seiva dos ciprestes dos jardins ao luar, há a luz das manhãs e há o mar;
E noite dentro, no silêncio da casa
Onde quer que seja, há os opostos que se roçam, há a inquietação e há a paz;
Decantadas, há paisagens poéticas
A Grécia, nos segredos eternos das suas ilhas
O Mediterrâneo, no silêncio da sua luz;
Amados, há poetas
Rilke, Pessoa, Lorca.
Abertas ao deslumbramento, servidas como um encantamento
As coisas realmente simples, da simplicidade do Mundo e da Vida
Passariam despercebidas, não fora a elevação pela sabedoria do poeta.





Um dos livros publicados, que recomendo:


  

O Templo da Glória Literária (pub. Esfera do Caos),
o título do livro, encenado ação ritual poético e evocativo, onde estão e
explícitas referências inevitáveis para o mais alto poética tradição italiana, mas não todos.
A idéia central que funciona através do trabalho é que em algum lugar,
talvez nas mentes de todos, existe um templo, o templo da glória literária.
Uma arquitetura leve e arejado da mente - palavras e memória -
construído a partir das leituras que fizemos e mantê-lo sempre.
O critério que orientou a construção de autoridade e de fama e glória literária,
a expressão máxima da sua universalidade que transcende espaço e tempo,
 atual e permanente, eterno e imortal.
 Homero, Píndaro, Virgílio, Ovídio, um dos maiores nomes da poesia grega e latina, assim como Dante, Petrarca, Camões, Cervantes, Shakespeare, Goethe, Byron, Baudelaire, Rimbaud, Yeats, Pessoa, Eliot, Lorca, Brecht, Neruda, Sophia O'Neill são, entre outros, o pretexto utilizado por Miguel Almeida para criar poemas originais, dedicada aos maiores poetas de todos os tempos. É isso ... "O interior é habitado somente por (poetas) morreram que não estavam lá quando eles estavam vivos, e alguns (poetas) ao vivo, a maioria deles, que
 são forçados a sair quando eles morrem."
É um trabalho sobre os poetas e os melhores nos deixaram,

de Homero a Dante, de Cervantes a Neruda - evocadas para ser lembrado e homenageado.

1 comentário:

Chris disse...

Faço uso das palavras de Luís de Camões a respeito do amor pois que amor engloba, quer se concretize quer não, uma componente sexual

MAIS VALE EXPERIMENTÁ-LO QUE JULGÁ-LO

para poder abordar a sua afirmação de que em Portugal se escreve pouca poesia sobre sexo.
Penso, amigo Miguel, que os portugueses estão mais interessados em praticá-lo do que em sobre ele divagarem .
Gostei do que li e aqui manifesto um pouco do quanto me despertou esta oportuna entrada que a Céu Rosário escolheu.
Ao autor das palavras o meu apreço pela escrita e à amiga Céu o meu obrigado pelo seu sentido de oportunidade que sempre tem, em semear aqui e ali uma pitada de algo que nos faz aparecer, falar e aproximar uns dos dos outros.

Chris Morris

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