03/03/14

ANA MARIA DOMINGUES




Chegas.
Desces...em segredo
todo o desejo
que navega nesse rio – agradecido!


Bem sabes…
do voluto hálito dos Deuses
desejando o resquício do fruto,
amoníaco da dança à nossa própria imagem
Hoje
e sempre instalado na fragilidade
da nossa pele
todo o Amor que a compõem.


Obrigado por vires até mim!







Não te peço mais nada. 
Basta-me este espaço entre as minhas mãos e as minhas palavras.
 Ou este espaço entre os meus dedos e os meus gestos,
 inaugurados em bocadinhos de ternura por elas. Seguramente calmas.
 Suaves. Risonhas. Com a leveza do colorido dos teus olhos. 
Entre o algodão e o indizível! Sem dar por isso. Por mim, por ti, 
pelo facto do meu mundo ser assim...
Sopra-me só como o vento pousado no teu peito. 
E deixa-me sem rumo. Deixa-me ser peixe. 
Toma -me num lugar qualquer do outro lado-do-mundo.
 Leva-me enquanto durmo nua nos teus beijos.

Já despi a minha roupa…

e as aves
essas, Amor já cantam
em cada canto
só para nós! 



Image and video hosting by TinyPic


  

17/12/13

ÂNGELA CERQUEIRA






“Cheia de Paz”

Momentos especiais.
Momentos como este.
Eu, só eu...
Única.
Sem ti, sem ninguém.
Eu e uma calma serena.
Um ser envolvido num profundo relaxamento mental.
Eu,
Fisicamente a não precisar de nada,
Eu,
Mentalmente a gritar por todos.
Única.
Olho sobre o ombro,
Sinto o cheiro da minha pele.
Acaricio a face com a palma da minha mão
E, sinto-me tão bem.
No momento sozinha e tão acompanhada pelo meu pensamento,
Que vai mantendo avivada toda a minha memória,
Todas as recordações.
Única.
E, sinto-me tão cheia de paz.







Num sorriso pintei a sombra de uma lágrima, e na alegria disfarcei a tristeza;
Num sonho escrevi uma música, e em sons transformei palavras;
Numa onda do mar perdi os meus medos, e em grãos de areia depositei meus temores;
Numa estrela do céu escondi os meus desejos, e nasceram no céu novas constelações;
Num pedaço de terra semeei meus segredos, e nasceu frondosa árvore…
E assim fiz história na história da minha vida,
E assim em cada página registei cada passo,
Porque assim se caminha diariamente,
Porque assim se vive.
Porque assim se dá razão à razão de viver!



 

16/07/13

ALDA MELRO





Sombras


Arrastam-se incrédulas
sombras sem imaginação
não tem forma ou cor
apenas passeiam pelo chão...

Pisam-no com raiva
e a certeza de possuírem
o mundo,tolda-lhes a mente e o coração...

Esgota-se o perfume 
dos jardins,quando passam
com a veemência de possuírem o mundo assim...

Pobres sombras mal amadas
porque fechais vosso coração
porque teimais em ser escuras
sombras da escuridão?

Aproximai-vos da luz
desta luz que irradia calor
sombras mal amadas
procurai o amor!








"Palavras de luz são as que iluminam as sombras.
 E as sombras necessitam de ser iluminadas, porque só há sombra por falta de luz.
 A poesia é isso mesmo: romper a visão da banalidade de palavras utilitárias.
 É deixar falar o coração. Não há muitos que o deixam falar.
 Não há muitos que saibam saborear o sentido da palavra.
 A Alda sabe.
 E ensina-nos a saber!"

(Fernando Melin)


Vive em Viana do Castelo...


des jolies barres de séparations !!

28/05/13

ANTONIO CARLOS SANTOS




Neste silêncio que se fez a força de um afecto.
Neste silêncio que se fez esperança bordada em carinho.
Neste silêncio que se fez uma alma cansada.
Neste silêncio que se fez um eco de Amor.
Neste silêncio que se fez um acto de partilha.
Neste silêncio que se fez esperança.
Neste silêncio que se fez o sentido de uma vida.
Neste silêncio que se fez sentimento e magia.

Fez-se silêncio num beijo que te dei.
Fez-se vazio neste silêncio...
Fez-se poema e poesia!



separateur


separateur



Escrevo e danço no vento,
escrevo nas estações perdidas,
escrevo as sombras sacudidas,
e os sibilos agrilhoados
e transbordo-me nos versos magoados...

http://www.youtube.com/watch?v=XQNAhLdcVu0



   

05/05/13

MARIA CLARA ROQUE ESTEVES





De manhã bem cedo,
Acordada pelo ruído do silêncio
Dei comigo a cobiçar o sol
( erro imperdoável do cansaço da noite).
Sob uma lenga-lenga de chuviscos
Um pássaro tomba num galho
E voa para uma árvore de flores azuis e brancas.
A cidade ainda dorme,
Ninguém se fez à rua nem à vida
Como se o mundo estivesse tapado por um pano.
Recolho-me na metáfora de mim
E descubro momentos que já foram meus.
Sem réstias de ansiedade vejo de novo
A  árvore de flores azuis e brancas,
O pássaro esvoaçante, e penso:
" qual será o seu destino?"
Um sonho utópico...
Mas hoje já é primavera de novo.
Quero beber as gotas da chuva,
Pintar os raios de sol na vidraça,
Esperar que as árvores me revelem segredos de novos caminhos
( entrega de corpos em sedução).
Ou será ilusão?
Não, hoje é Primavera,
A vida é um jardim
Que posso percorrer ao fim da tarde.






Maria Clara Roque Esteves  has studied languages and literature both in Coimbra
 and Lisbon Universities, and also has a degree in Social Sciences,
 finished in 1973, Lisbon. 
 She has been writing poetry since she was fifteen years old,
 attending a high-school in Mozambique where she won school prizes for her work.
 She has been employed for 36 years on the Lisbon City Council,
 both as a Technician and Director

000bottom



20/03/13

ADELINA CHARNECA TRINDADE




 Hoje,
Segredei teu nome à chuva,
dela não tive resposta.
Contei-lhe tudo com medo,
disse-lhe o quanto me dói
querer-te e amar-te em segredo.

A chuva não me responde
caindo do céu sem parar,
forma lagos de carinho
onde  se afogam meus olhos.
Que se enchem  devagarinho.
de  lágrimas,sem chorar.
Vivem de chuva constante
escorre-me pelo rosto
vem de um tempo distante,
conheço-lhe  bem o gosto.

Hoje
Segredei teu nome à chuva
dela não tive resposta.
Contei-lhe tudo com medo,
disse-lhe o quanto me dói
querer-te e amar-te em segredo


Lágrimas secas de mim
Que escorrem devagarinho
caiem redondas no chão
espalham-se p'lo  caminho
vamos sempre  de mãos dadas
dentro de um coração
lágrimas secas apaixonadas
Formam lagos de carinho
e  escorrem devagarinho
numa ternura sem fim

Hoje
Segredei teu nome à chuva
dela não tive resposta.
Contei-lhe tudo com medo,
disse-lhe o quanto me dói
querer-te e amar-te em segredo


(EU)
27-11-2011
23.35h

 
 Vou fazer um compromisso de manter a riqueza circulando na minha vida,
dando e recebendo da vida os mais preciosos dons:
dons de carinho,afecto,apreço e amor.
Cada vez que encontrar alguém,
silenciosamente desejo-lhe felicidade alegrias e risadas.



 

09/03/13

MAGÁ FIGUEIREDO



Uma só pérola branca do seu colar
se sentia e separava o par
no seu leve e mavioso dançar !

A melodia envolvia ternura no olhar
e aqueles sons maravilhosos, oníricos,
penetravam suavemente nos seus corpos unidos,
que consoante, e em forma de flor ondulante,
libertavam um perfume de aroma delirante,
de seu nome ... Amor Flutuante...

Enlevados, se fundiram num só corpo.

Aninharam-se a um canto do salão,
... longe imaginarem ...
se isso importava ou não;
quem mandava, naquela hora suprema,
era o coração.

Beijaram-se
Sabor a mel
Prazer
Desejo

Baixinho, seus lábios murmuraram:
- Quero-te meu Amor !

Em passo de dança ... o baile prossegui noutro dançar !


"in"em mim...sentimentos













 
 
 


10/02/13

PAULO ALEXANDRE HENRIQUES




 Queria caminhar sobre contos de fadas,
Subir ao céu através de escadas…
Em vez de pintar lágrimas derramadas,
Podia ir ao fundo do mar buscar palavras naufragadas.

Queria caminhar sobre a água…
Sentir as lombas do oceano,
A fazerem-me esquecer a mágoa…
Só me resta ir sonhando.

Queria ser um floco de neve…
Queria ser um jornal numa loja
À espera que alguém me leve…
Mas não quero esperar morrer para que alguém me eleve.

Queria alguma coisa, já que não posso ter o mundo.
As gaivotas chamavam-me vagabundo,
Porque em 24h só apareço na praia 1 segundo.
Eu queria… Mas não cresci no vosso mundo.

Queria ter um avatar…
Para quando me for embora continuar a respirar…
Secalhar, não é boa ideia
Porque iria haver um poeta com maneira diferente de pensar.

Deixem estar! Já não quero nada…
Porque iria pedir uma caravela,
Se a ia deixar no cais,
Numa prateleira, junto à janela?


Eu queria outra coisa qualquer,

 Poeta Paulo Alexandre Henriques, Edições 2012





Ora, eu não sou mais que eu próprio mas tento ser.
Antes de mais, sou o Paulo Alexandre Henriques,
 tenho 19 anos completados em 10/Fevereiro e resido em Torres Novas.
 Nasci em Almeirim mas cedo fui adoptado, quer dizer, com 6 anos.
Defino-me com alguém lutador mas que se vai muitas vezes abaixo.
 Nem sempre sei lidar comigo próprio. As emoções são o meu ponto fraco.
Sou muito entregue ao amor e às paisagens que me rodeiam.
Consigo ver palavras novas em tudo o que posso para que
 os meus poemas sejam o mais “escondidos” possível.
A minha primeira paixão nem foi a poesia apesar de estar sempre presente.
Venerava Atletismo e cheguei mesmo a ser campeão nacional de salto em comprimento.
Para além disso pertenci ao movimento escutista da CNE e
 ainda pratiquei mais alguns desportos.
 Frequentei também o Curso de Inglês numa escola de Línguas.
No Futuro quero poder viajar pelo mundo, conhecer muita mais do que
 conheço e levar a pessoa que mais gosto para qualquer lado.
 Não gosto de estar no mesmo sítio.
Começo a entrar num estado depressivo que não me fascina de todo.
 Tenho sempre de arranjar uma nova ocupação.



06/01/13

MIGUEL FAIA




Tornei-me duro

sem emoções como as penedias.

O desassossego na procura

do impossível

transformou-me num inferno

os dias.

Quis matar

o tempo sem dele ser o dono …

Neste repetir de imprecauções

quis enterrar

o sofrimento.

Endureci o cenho…

as feições tornei-as duras, de ferro e cimento.

Fiz sofrer à minha volta

quem por mim se debatia aflito

para me moldar o génio

e adoçar o coração.

Mas em mim

o grito

insistia

que o meu Céu florido era a revolta

e a inquietação.

Só tenho agora

fantasmas

que caminham a meu lado…

Habitam

de braço dado comigo

nesta prisão.

Fantasmas invisíveis

que me alimentam o sono

que não durmo

nesta idade. 

Medito

na outra

em que troquei deus

pelo inferno infinito desta negra liberdade.


Miguel Faia "Inquietante, é!"








Já o disse. E repito-o. A poesia não é
abstracção. Não exige inspiração.
A poesia é a transcrição do real
é o acto em si mesmo
a agressão. Importa agredir o passivo
esse caminho para o enterramento...




  


23/12/12




CONTO DE NATAL A 4 MÃOS

O sol luminoso e aconchegante daquela manhã não amenizava o frio cortante que se sentia desde bem cedo. A avó Florinda gritou da cozinha ”Tiago, leva o casaco!”, mas ele já saíra sem lhe dar ouvidos.
Sentia-se bem quando caminhava pelas ruas da Ribeira, ali nascera, ali dera os primeiros passos, sempre fora acarinhado, afinal não era um menino qualquer, era o neto do pescador Salvador. O avô Salvador fora um verdadeiro “lobo do Mar”, respeitado por todos e idolatrado por alguns. Sempre que ele pronunciava ou vociferava algo, sob aquelas barbas brancas, onde se escondiam mil e uma histórias, era religiosamente ouvido!
Tiago enquanto caminhava sentia um odor agradável. Um cheirinho a Natal pairava no ar, as pessoas com quem se cruzava, de semblantes luminosos, sorriam-lhe! Na época natalícia, algo nos impele a sermos solidários, a sermos amigos dos amigos, mas na verdade viviam-se tempos difíceis. A toda a hora ouvia a avó Florinda dizer ”Ai meu filho, este país está uma desgraça!...nem no tempo que o teu avô estava semanas sem ir ao mar…sentíamos este aperto!...onde iremos parar?...” Confesso que estas interrogações da avó me inquietavam um pouquinho, mas também sabia que a avó Florinda, agora a matriarca da família, tudo faria para que o nosso Natal fosse mágico, esplendoroso, como sempre fora!
Continuei o meu passeio e apesar de saber que não poderia demorar, pois prometera à avó Florinda acabar de colocar os enfeites de natal, dirigi-me até ao cais, como fazia tantas vezes. Sou um rapaz como todos os outros de onze anos, adoro jogar futebol, Playstation, ver televisão…mas também adorava passear com o avô Salvador, ao longo do cais. Acabávamos sempre por nos sentar e ficava a ouvi-lo…era sempre levado em viagens fantásticas, onde afoitamente enfrentávamos a ira do mar e regressávamos a terra orgulhosos dos nossos feitos… caramba, sinto tanta saudade do meu avô Salvador!...Sinto uma lágrima persistente a querer rolar na minha bochecha e imagino os meus colegas de turma a gozarem-me “olha que mariquinhas!!”…não, eu não vou chorar! O meu avô decerto não me quer ver triste e ele não iria gostar de ver o Tiaguinho, como carinhosamente me tratava, com um ar tristonho na festa mais bonita do ano: o nosso Natal!
Regressei com passo apressado, distraí-me, era sempre assim, nunca dava pelo passar do tempo quando ia até ao cais, quem me dera que fosse assim nas aulas de matemática! Entrei em casa e ouvi de imediato a avó Florinda “Tiago Manuel, vem cá!”…ui, sempre que a avó Florinda me tratava desta maneira havia tempestade pela certa.

– Sim, avó!? Que foi que eu fiz desta vez?
– Ainda perguntas, meu malandro? Sabes muito bem que não arrumaste o teu quarto antes de saíres. Além do mais, não achas que está frio demais lá fora, para ires sem um agasalho? – resmunga a minha avó.
– “Vó”, eu sou duro… sou neto de um pescador, lembras-te?
– Pois…pois, meu menino. Está-me a parecer é que queres passar o dia de Natal deitado numa cama de hospital.
Sem dar mais ouvidos à minha avó, subi as escadas em espiral que dão para a parte de cima da casa, onde ficam os dois únicos e minúsculos quartos da casa de meus avós. Arrumei toda a confusão que estava no meu quarto. O passeio até ao cais, juntamente com algumas noites mal dormidas devido aos testes escolares dos últimos dias, fizeram com que me sinta cansado e com algum sono – apesar de ainda à poucas horas me ter levantado. Deitei-me na cama e logo adormeci.

– Senhor Doutor, o que tem o meu neto? – pergunta a avó de Tiago ao pediatra que estava de serviço na urgência.
– Ainda não sei bem, minha senhora. Mas o seu neto, vai ter de ficar internado para observações. – responde amavelmente o médico.

Estou cheio de febre e sinto o corpo todo dorido. Quase nem percebo a quem pertencem estas vozes, quanto mais o que elas dizem. Apenas tenho noção que estou no hospital e que hoje é dia de Natal.
Neste quarto de hospital, onde tem mais duas camas com dois meninos que, parecem estar mais mortos que vivos, de tão pálidos que estão, há um pequeno pinheirinho enfeitado com bolas vermelhas e azuis e estrelinhas douradas e penso: «O meu é bem mais bonito. Que falta de gosto, esta gente tem!» Mas… logo me deixo de preocupar com isso. É que, acaba de se aproximar de mim, com cara de poucos amigos, uma enfermeira com uma seringa…
– Avóóóó, tira-me daqui, por favor. Eu tenho pavor a seringas… – choro e grito. Ainda mais aflito fico, quando reparo que a minha própria avó se ri a alto e bom som. Como pode!?

– Tiago! Tiaaaago!... Acorda, rapaz! Estás maluco? Isto lá são horas de estar a dormir e a sonhar!? Óh céus… dai-me paciência.

Acordei num sobressalto, com a voz da minha avó, transpirado mas ao mesmo tempo aliviado, pois tudo não passara de um pesadelo. Gostaria de ter sonhado, com o pai natal, montado nas suas renas, voando pelo céu infinito, entoando o seu cântico de chamamento- ouh ouh ouh ouh –passando por entre as estelas, acompanhado sempre por aquelas mais brilhantes que caem e se veem brilhar através da luz da lua…carregado de prendas mas não para mim, eu que não necessito( embora goste), mas sim para os meninos, que nunca tiveram nada na vida a não ser infelicidade choro e dor, essas sim deviam ser lembradas, deviam ter um Natal, em todos os dias que o antecedem, e viverem na felicidade e paz que todos merecemos ter…
- Tiago!
Ouço de novo a voz trémula mas forte da minha avó chamando por mim!
Vou já descer vozinha…sim tinha-me esquecido que tinha prometido á avó Florinda concluir os enfeites de Natal com ela.
Desci vagarosamente as escadas de caracol, sem conseguir tirar do meu pensamento todas aquelas crianças que não sabem sequer o que é o Natal, que vivem em ambiente de guerra (tantas vezes vejo na TV), sem comida todos rotos e sujos, alguns mesmo sem casa para morar…foi então que a lagrima que guardava pelo avô Salvador, jorrou pela cara, sem a conseguir controlar…
Sentei-me num degrau da escada, até que conseguisse compor o meu rosto, sem que a avó notasse, sim porque eu não quero que ela me veja a chorar, pois choro não é “coisa” de homens.
- Tiago, Tiago! Querem ver que voltou a adormecer?

- Já vou, avó!
- Anda cá depressa, Tiago Manuel! voltava a pairar no ar o prenúncio da tempestade pela certa, já que quando minha avó acrescentava ao Tiago o meu segundo nome Manuel, fazia antever a certeza de que, na realidade, estava um pouco zangada.
Naquele dia, não sei porquê, e à parte do sonho horrível que tivera ainda que desperto para triste realidade de milhares de meninos que não sabem o que é Natal, passando-me pela memória a materialização do Pai Natal distribuindo prendas por todos eles, sentia-me ainda mais angustiado, com a agravante do meu irmão mais velho, Salvador como meu avô, viver um dos períodos mais conturbados da sua vida, pois trabalha nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e todos os dias em casa ouvimo-lo falar de incertezas e preocupações várias, quanto ao futuro desta empresa, com mais de sessenta anos de existência. Quanto ao meu pai, esse trabalha na marinha mercante, como contramestre de um navio que, presentemente, faz rota por terras de África. Também ele nos fala constantemente em crise no sector e, provavelmente, não vem passar o Natal connosco. Durante alguns anos, tal como seu pai e meu avô, andou embarcado à pesca do bacalhau, tendo sido, também, marinheiro no Navio Hospital Gil Eanes, aqui construído há muitos anos nos Estaleiros onde o meu irmão trabalha, hoje uma espécie de museu flutuante da nossa cidade? Mas, como no ar se respirava o espírito de Natal tinha que esquecer toda essa carga negativa. Apressei-me em fazer a vontade à minha avó, cumprindo com o prometido, ajudando-a a concluir o pinheirinho de Natal, pendurando os enfeites, os chocolates e as bolas coloridas, que bem pareciam estrelas cintilantes quando reflectidas pela iluminação das luzinhas intermitentes e multicolores. Ao lado da árvore, e como é tradição das gentes da Ribeira, a minha avó fez um arranjo, onde não falta o azevinho e colocamos um lindo presépio onde o Menino Jesus é o centro das atenções. - Sim, Tiago, enquanto eu for viva, aqui em casa, o Menino Jesus é que é o Pai Natal! Advertiria minha avó lembrando, ao mesmo tempo, a forma como as gentes ribeirinhas de Viana viviam a Ceia de Natal, onde o bacalhau (para fazer os famosos pastéis, mas dos quais eu não gosto nada) das secas de Viana era rei, complementando-se com as imprescindíveis rabanadas, o arroz doce e a aletria. No tempo dos meus avós, o galo era o prato preferido da Ceia de Natal das gentes da Ribeira, pois só se comia por essa altura, no Ano Novo, na Páscoa e no 20 de Agosto. E este ano, minha avó está na disposição de reavivar esta velha tradição.
- Avozinha, posso fazer um pedido ao Menino Jesus?
- Claro que podes, meu netinho. Basta que para isso, penses só para ti, sem dizer nada a ninguém, o que mais desejarias ter como prenda, se é que é isso que queres pedir!...
No ar pairava um silêncio profundo, apenas quebrado pela voz da minha tia Alzira Chavarria, apregoando o peixe e polvos fresquinhos trazidos da lota e do barco de um pescador amigo. Olha o peixe fresquinho!, e que faziam as delícias das gentes das aldeias da margem esquerda do Lima. Minha tia tinha clientes certos para aqueles lados. Apesar dessa estridente sonorização, lá interiorizei o meu pedido (faz com que o meu pai e o meu irmão não percam os seus empregos e os Estaleiros Navais continuem a laborar, não te esquecendo de trazer para mim uma nova Playstation, pois a do ano passado deixou de funcionar, e que todas as crianças do mundo tenham direito ao seu Natal!...), tendo sempre a esperança de que fosse ouvido.
A minha avó não se apercebeu, mas aquele menino repolhudo e de face rosada a fazer lembrar os querubins do altar-mor e do altar do Sagrado Coração de Jesus, em S. Domingos, piscou-me o olho em sinal de anuência ao meu pedido.

Naquele momento, para o pequeno Tiago Manuel, tinha-se dado um verdadeiro milagre de Natal!



O Conto de Natal a 4 mãos foi lido no Museu do Traje junto de uma plateia fantástica e emocionada! Parabéns a todos os autores. 
Um Bem Hajam amgos, Tina TinocoDaniela S. PereiraRaquel Rodrigues e Porfírio Silva!
As fotos foram tiradas por um dos assistentes, o amigo e pintor José Marques!
Um Santo e Feliz Natal para todos!




Page copy protected against web site content infringement by Copyscape

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...