RUI MIGUEL FRAGAS

Atrás de mim, a porta fechou-se sem que ninguém a tivesse fechado. 

Estás ao fundo do quarto, em frente ao espelho,
 na distância que vai de um lugar a outro lugar.
Uma palavra desliza no sopro do silêncio,inconcluida.

 E um pássaro de penas azuis poisa no teu ombro nu.

Desenho dois passos na penumbra, risco uma palavra que não se acende.

 Um outro pássaro, de asas longas e bico vermelho, esvoaça entre os meus lábios e

desaparece nos segredos do teu corpo.
 Estendo a cegueira das minhas mãos na ânsia de encontrar as tuas.

Procuro os teus olhos na vertigem do espelho.
E um bando de pássaros emerge do canto mais escuro e
 atravessa a distância que nos separa.
À minha frente, a janela abre-se sem que ninguém a tenha aberto.

 



"Nem sempre o corpo do poema percorre todos os caminhos da

paisagem. A voz dissonante dos meus dedos, as linhas de alta

tensão, as tuas encruzilhadas. Os pássaros das palavras também

sabem voar o céu do silêncio."